quinta-feira, 18 de junho de 2009
Retrocesso da Comunicação
Era meados da década de 90 ainda quando ingressei nos estudos para tentar uma vaga na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Minhas primeiras opções até desconsidero visto que nos primeiros anos pós ensino médio estamos na busca do que queremos ser no futuro. Nessas escolhas tentei vários cursos: edificações, arquitetura (e acreditem, esses especificamente demonstram como eu estava perdida; absolutamente perdida); ja mais identificada com o que queria, tentei jornalismo e ingressei mesmo em Radialismo, na primeira turma da UFRN ano 2002. Essa turma foi um diferencial no Curso de Comunicação Social na época. Chegamos com vontade de fazer acontecer. E com ajuda de alguns poucos professores conseguimos realizar vários Projetos dentro e fora da faculdade. A Rádio Experimental de Comunicação – REC (só para registro dos navegantes de primeira viagem, sou a autora desse sigla), Projeto Toque de Rádio, realização de Oficinas, enfim, muitas conquistas. Após quatro anos e meio de curso, me formei e logo em seguida já estava cursando por reingresso automático, a habilitação de jornalismo. Terminei chegando onde eu queria no inicio, mas de outra forma, mas sempre, pelo estudo. Uma coisa que entendi lá atrás é que nesta vida, nós da classe aqui em baixo, só consegue as coisas através do estudo ou por “sorte”. Como essa história de sorte é muito relativa, não tive opção, me dediquei aos estudos. Estou cursando com muita dificuldade o curso que sempre almejei. Hoje com mais dificuldades devido às exigências que a vida me impõe, como trabalho, cursinhos, e tantas outras coisas que não permitem me dedicar 90% como fiz em Rádio e TV (apesar de tanta dedicação, ainda acho que deveria ter me dado mais). Só para deixar claro, ainda não estou atuando na área que tanto me identifiquei – Radialismo, por falta de “sorte”. Onde quero chegar com todo esse meu relato universitário? Fiz esse retrocesso para chegar exatamente no dia de hoje, “18 de junho de 2009”. Um dia em que uma decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal me deixa indignada e ao mesmo tempo “surpresa”. Entre aspas porque muitas decisões não deveriam nos surpreender, afinal são sempre para o nosso ‘bem’, não é? - Vocês, com o direito de resposta! E a decisão .... foi divulgado nessa quarta-feira a aprovação com oito votos a favor e um contra, a NÃO OBRIGATORIEDADE DO DIPLOMA DE JORNALISMO para exercer a profissão. A maioria coincide com a opinião do presidente do tribunal, Gilmar Mendes, que considera "inconstitucional" a exigência de um diploma obrigatório para os jornalistas. Para Gilmar, devem ser os próprios meios que deve decidir quem contratar para exercer a profissão. Um verdadeiro retrocesso na valorização da qualificação do profissional de comunicação. Segundo os argumentos do Supremo a obrigatoriedade do diploma seria uma ‘herança dos militares’. Nada a ver... o que eles estão fazendo é desvalorizando uma conquista da própria categoria. Desvalorizando os anos de empenho de estudantes vindo de faculdades públicas ou privadas. Por que eles desconsideram nosso diploma? Por não tratarmos da saúde? Por que não controlamos a economia do país? Por que a educação não passa por nossas mãos? E onde fica a formação da opinião pública, que alguns dizem está ‘se lixando” como a recente declaração do Deputado Sérgio Morais. E a transmissão da informação, da notícia detalhada e objetiva que chega a casa dos brasileiros todos os dias? E o jornalismo investigativo que revelou tantos casos de corrupção em nosso país? Será que meu vizinho que gosta de escrever, vai ter uma aprender a construção da noticia só pelos livros? A apuração dos fatos? A imparcialidade? Os livros já explicam tudo? O lead, a pirâmide invertida, o nariz de cera, a seis perguntas que fazem parte da construção da notícia? Será que não precisamos mesmo de quatro ou cinco anos de curso para nos tornamos “jornalista”? será que eles, os que hoje aprovam essa medida, ou os que compartilham dos mesmo pensamento, dessa decisão retrógradas não utilizaram do conhecimento desses desnecessários jornalistas diplomados para serem o que hoje eles são? O diploma nunca impediu que a sociedade pudesse expor sua opinião. É para isso que os meios de comunicação estão aí. Existem espaços nos meios de comunicação impressos, televisivos e radiofônico abertos a sociedade, será que eles desconhecem isso? Convido vocês a compartilharem comigo da opinião da presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Beth Costa, que declarou algo e fiz alguns recortes sobre o assunto. “A defesa da regulamentação profissional e do surgimento de escolas qualificadas remonta ao primeiro congresso dos jornalistas, em 1918, e teve três marcos iniciais no século 20: a primeira regulamentação, em 1938; a fundação da Faculdade Cásper Líbero, em 1947 (primeiro curso de jornalismo do Brasil); e o reconhecimento jurídico da necessidade de formação superior, em 1969, aperfeiçoado pela legislação de 79. Foi o século (especialmente na segunda metade) que também reconheceu no jornalismo –seja no Brasil, nos Estados Unidos, em países europeus e muitos outros- um ethos profissional. Ou seja, validou socialmente um modo de ser profissional, que tenta afastar a picaretagem e o amadorismo e vincular a atividade ao interesse público e plural, fazendo do jornalista uma pessoa que dedica sua vida a tal tarefa – e não como um bico. (...) A informação jornalística é um elemento estratégico das sociedades contemporâneas. Por isso é que o Programa de Qualidade de Ensino da Federação Nacional dos Jornalistas - debatido, aperfeiçoado e apoiado pelas principais entidades da área acadêmica (como Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação; Abecom - Associação Brasileira de Escolas de Comunicação; Enecos-Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação; Compós - Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação; e Fórum de Professores de Jornalismo)– defende a formação tanto teórica e cultural quanto técnica e ética. Tal formação deve se expressar seja num programa de TV de grande audiência ou numa TV comunitária, num jornal diário de grande circulação ou num pequeno de bairro, num site na Internet ou num programa de rádio, na imagem fotojornalística ou no planejamento gráfico. É por isso que, num Curso de Jornalismo, é possível tratar de aspectos essenciais às sociedades contemporâneas e com a complexidade tecnológica que os envolve, incluindo procedimentos éticos específicos adequados – do método lícito para obter informação à manipulação da imagem fotográfica, do sigilo da fonte ao conflito entre privacidade e interesse público, por exemplo. É na escola que há laboratórios de telejornalismo, radiojornalismo, fotojornalismo, planejamento gráfico, jornal, revista, webjornalismo e outros. A escola pode formar profissionais para atuar em jornalismo - e não para uma ou outra empresa. Pode formar profissionais capazes de atuar em quaisquer instituições, setores ou funções. É a formação que também permite o debate e novas experiências. A Fenaj defende a formação profissional em cursos de jornalismo de graduação com quatro anos e, no mínimo, 2.700 horas-aula, como já apontavam as diretrizes curriculares aprovadas após inúmeros debates e congressos na área. A formação em Jornalismo, que deve ser constante e aprimorada durante toda a vida, é a base inicial para o exercício regulamentar da atividade. A tudo isso chamamos profissão Jornalismo. E não nos parece pouco.” Ou seja, Vossa Excelência, a formação é importante sim. Na verdade, considero essa medida um verdadeiro jogo de interesse e quem perde sempre somos nós. Com essa decisão, eles se voltam contra a sociedade que fica tolhida do direito a notícia com qualidade. Hoje eles, cospem no prato que comeram!
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